Os evangélicos em casa, na igreja e na política
Por Lívia Reis, Laryssa Owsiany e Lucas Bártolo
- 15 dez 2025
- 6 min de leitura

A pesquisa Novo Nascimento 30 anos depois
Neste ano em que foram divulgados os dados mais recentes do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as religiões no Brasil, o Instituto de Estudos da Religião (ISER) publica um novo número de Comunicações do ISER com um debate sobre sua pioneira pesquisa sobre evangélicos, realizada em 1994 e que completou 30 anos em 2024. Seus resultados foram publicados no livro Novo Nascimento: os evangélicos em casa, na igreja e na política (Fernandes et al., 1998).
Na época em que a pesquisa foi conduzida, o Brasil vivia sua primeira grande transição religiosa, com o aumento do segmento evangélico, que, de acordo com o Censo de 1991, somava 9% da população. Hoje, essa parcela já chega a 26,9%. Nossa paisagem religiosa tem se mostrado cada vez mais diversa e menos católica – embora ainda sejamos o país mais católico do mundo –, o que por si só justificaria a retomada do debate sobre os impactos da presença evangélica na sociedade.
A presente publicação é parte de um duplo esforço do ISER: 1) fazer uma análise crítica sobre a produção de dados que nos informem como a religião impacta no cotidiano, na sociabilidade e na vida política dos brasileiros; e 2) reeditar uma nova versão da pesquisa, desta vez de âmbito nacional e estendida a todas as religiões, na qual seja possível cruzar dados sobre religião com outros marcadores sociais, respondendo a novas questões, muitas delas levantadas no debate aqui proposto.
O artigo que estimula esse debate foi escrito por Cecília Mariz, socióloga que participou da pesquisa original. Em diálogo com esse texto, reunimos contribuições de especialistas como Maria Tereza Serrano Barbosa, Maria das Dores Campos Machado, Emerson Giumbelli, Taylor Aguiar, Maria Goreth Santos, Marcelo Camurça, Renata Menezes, Magali Cunha, Wania Mesquita, José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi– cada um a partir de seus respectivos campos de pesquisa.
É importante ressaltar que todos os artigos foram escritos antes da divulgação dos dados do Censo de 2022. Por isso, algumas referências aos números ainda se baseiam nos dados de 2010. Optamos por não atualizar os textos, que já se encontravam em fase final de edição, pois entendemos que essas referências não comprometem o propósito desta publicação, voltada sobretudo à formulação de novas perguntas de pesquisa, que não deixaram de ser pertinentes após a divulgação dos resultados do último Censo.
Além disso, embora o Censo seja um instrumento muito importante para captar tendências da nossa paisagem religiosa – e somos um dos poucos países do mundo que há 150 anos contabiliza a religião em um recenseamento nacional –, ele não tem como responder, e nem deve responder, a inúmeras outras questões. Nossas pesquisas também têm dialogado com o conhecimento gerado por outros estudos quantitativos e qualitativos que buscam compreender a dinâmica do campo religioso brasileiro. Ou seja, nossa referência principal é a experiência com o Novo Nascimento, mas atualizar as questões é tarefa constante para apreender mudanças e continuidades nas relações entre as religiões e a sociedade.
Outro Brasil, novas questões
A Novo Nascimento completou 30 anos em 2024 e muita coisa mudou no Brasil desde então. Os dados do Censo divulgados em 2025 revelaram que a dinâmica religiosa tem se tornado cada vez mais complexa. Cresce o número de evangélicos, ainda que tenham mudado as formas de pertencimento denominacional, de afrorreligiosos, de pessoas que se declaram sem religião e a variedade de religiões não cristãs enquanto o número de católicos segue em queda. Essa diversificação do campo religioso sugere uma pluralidade que precisa ser explorada e compreendida em suas várias dimensões.
Já a incidência das mídias sociais e das plataformas digitais na formação de comunidades religiosas também emergiu como um novo vetor de influência, borrando ainda mais fronteiras mal definidas, mudando as formas de praticar a religiosidade e de mobilização política. No entanto, os dados sobre religião produzidos atualmente não permitem identificar e aprofundar as nuances, especialmente se considerarmos a influência da identidade religiosa em outras esferas da vida social e a forma como a religião tem sido mobilizada a partir de sua relação com o Estado.
Diante desse cenário, torna-se necessário realizar uma nova pesquisa mais abrangente e atualizada que nos permita ter uma compreensão mais aprofundada desse fenômeno social. Esse novo mapeamento, atualmente em andamento no ISER, visa desvelar as novas (e persistentes) práticas religiosas “na igreja, em casa e na política” e tem como referência fundamental a pesquisa realizada na década de 1990, agora revisitada à luz de questões contemporâneas e urgentes.
Uma pesquisa em processo
Desde 2022 temos revisitado essa pesquisa no âmbito do projeto “Do Novo Nascimento às novas configurações religiosas”, que tem como objetivo final a realização de um novo estudo quantitativo e qualitativo sobre as religiões no Brasil. Para dar conta dessa empreitada, formou-se uma equipe composta por Regina Novaes, Maria Tereza Serrano, Cecilia Mariz, Clemir Fernandes, Lívia Reis, Laryssa Owsiany e Matheus Pestana, que se dividiu em três eixos de trabalho: 1) análise crítica do questionário, tanto em termos estatísticos quanto temáticos; 2) discussão sobre a metodologia da Novo Nascimento e 3) planejamento da execução da nova pesquisa.
Os textos reunidos neste número reafirmam a relevância da pesquisa Novo Nascimento como marco na produção de dados sobre religião no Brasil e aponta caminhos possíveis para uma nova agenda de investigação que dê conta das complexidades contemporâneas. Mais do que retomar dados que ainda surpreendem por sua atualidade, os artigos propõem novas perguntas e interpretações, destacando os impasses e desafios de se estudar um campo religioso em constante transformação.
Como citar
REIS, Lívia; OWSIANY, Laryssa; BÁRTOLO, Lucas. "Os evangélicos em casa, na igreja e na política". Religião e Poder, 15 dez. 2025. Disponível em: . Acesso em: .
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