O que mudou no quadro das religiões do Brasil: comparações entre os Censos 2010 e 2022
Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Por Matheus Cavalcanti Pestana
- 14 ago 2025
- 5 min de leitura

Qual é o pertencimento religioso dos brasileiros? Com a divulgação dos dados sobre religião do Censo Demográfico de 2022, a plataforma Religião e Poder atualiza o retrato da distribuição de expressões de fé no país em comparação com o levantamento anterior do IBGE o de 2010, referência para estudos até maio de 2025.. A leitura mostra um Brasil ainda majoritariamente católico, mas com um campo religioso cada vez mais plural e com marcas regionais, geracionais, de gênero e de cor/raça que ajudam a explicar as diferenças.
Brasil: maioria católica, pluralização em marcha
Entre 2010 e 2022, os católicos seguem maioria, mas recuam de 65,0% para 56,75% (−8,25 p.p.). Os evangélicos crescem de 21,7% para 26,85% (+5,15 p.p.), consolidando-se como a segunda grande força religiosa. Um terceiro grupo é o dos sem religião que passam de 7,9% para 9,28% (+1,38 p.p.). Entre as minorias, há ganho de visibilidade estatística: Umbanda e Candomblé sobem de 0,3% para 1,05% e outras religiosidades de 2,7% para 4,01%; os espíritas oscilam levemente para baixo (2,1% → 1,84%).
Ao compararmos a leve queda católica com o avanço evangélico é possível observar o salto de Umbanda e Candomblé e de “outras religiosidades” no gráfico interativo abaixo. Note também a expansão dos “sem religião”.
É preciso fazer um adendo metodológico: os percentuais de 2010 referem-se à população total; os de 2022, à população de 10 anos ou mais. Essa diferença de universo adotada na metodologia do IBGE nesse último censo, tende a afetar comparações diretas (principalmente em grupos com estruturas etárias distintas, por exemplo em estados com maior população jovem).
Atualizaremos este artigo assim que os microdados amostrais do Censo 2022 estiverem disponíveis, o que permitirá harmonizar recortes etários, refinar cruzamentos (idade, escolaridade, renda) e detalhar recortes territoriais. Neste momento oferecemos alguns destaques relevantes para a compreensão do retrato das religiões e religiosidades presentes no país nesta segunda década do século 21.
Por gênero: mais mulheres evangélicas, secularização masculina
A composição por sexo dentro dos grupos reforça padrões conhecidos. Entre católicos, há equilíbrio (51% mulheres / 49% homens). Entre evangélicos, as mulheres seguem maioria (55,4%), um traço estável frente a 2010. Espíritas (60,6% mulheres) e Umbanda/Candomblé (56,7% mulheres) também apresentam predominância feminina. Já entre os sem religião, prevalecem homens (56,2%).
Por região: pluralismo e mudança
Em todas as regiões, o catolicismo permanece majoritário, mas em patamares menores que em 2010. O Norte exibe o quadro mais competitivo: 50,48% de católicos e 36,79% de evangélicos. O Centro-Oeste também se aproxima da pluralidade (52,60% de católicos; 31,39% de evangélicos). No Sudeste, a maioria católica (52,24%) convive com o avanço evangélico (27,96%) e com o maior peso das pessoas sem religião (10,58%). No Sul, o catolicismo ainda é robusto (62,40%) e os sem religião crescem (7,13%). O Nordeste preserva a tradição católica mais acentuada (63,90%), ainda que em queda em comparação a 2010 (72,2%).
Em 2022, Umbanda e Candomblé concentram-se no Sul (1,59%) e no Sudeste (1,40%), sinalizando maior institucionalidade e visibilidade nesses territórios do que em 2010, como já foi analisado aqui na plataforma. Ao compararmos os dados por região com o gráfico abaixo, vale reparar no Norte (maior presença evangélica) e no Sudeste (maior proporção de “sem religião”), e observar a concentração de Umbanda/Candomblé no Sul e Sudeste.
Por estado: permanências e viradas
O Nordeste ainda reúne os estados mais católicos do país: Piauí (77,43%), Ceará (70,40%) e Paraíba (68,96%) lideram no levantamento do Censo em 2022. Na outra ponta, as menores proporções católicas estão em Roraima (37,89%), no Rio de Janeiro (38,92%) e no Acre (38,93%).
O avanço evangélico aparece com força na Amazônia Ocidental: Acre (44,38%), Rondônia (41,08%) e Amazonas (39,37%). Entre os sem religião, os patamares mais altos estão em Roraima (16,94%), no Rio de Janeiro (16,89%) e em Rondônia (12,93%). Umbanda e Candomblé se destacam no Rio Grande do Sul (3,19%), no Rio de Janeiro (2,58%) e em São Paulo (1,47%).
O gráfico abaixo ajuda a verificar a situação por religião e estado e a observar o ranking para extremos. Vale comparar 2010 e 2022, filtrando por religião, para captar onde a queda católica e o avanço evangélico foram mais intensos.
Por cor/raça: reequilíbrios internos
A fotografia por cor/raça no Censo 2022 aponta maior peso relativo de pardos e pretos em diversos grupos e queda da participação branca em comparação a 2010. Entre católicos, brancos (45,9%) e pardos (44,0%) praticamente empatam, com pretos (9,3%) em alta. Quando unimos pretos e pardos, temos um total de 53,3%. Entre evangélicos, pardos (49,1%) lideram, seguidos de brancos (38,0%) e pretos (12,0%), com negros somando 61,1%, mais da metade, sinais de base social mais popular e heterogênea.
O espiritismo segue concentrado entre brancos (63,8%), mas com crescimento dos negros (35,3%). Umbanda/Candomblé apresenta composição multirracial (brancos 42,9%, pardos 33,2%, pretos 23,2%, com negros somando 56,4%). Nos sem religião, pardos (45,1%) superam brancos (39,2%) e pretos (14,2%), com negros totalizando 59,3%.
Compare as proporções para ver a aproximação entre brancos e pardos no catolicismo e a maioria parda entre evangélicos.
Em síntese
O ciclo 2010-2022 revela pluralização religiosa, com recuo do catolicismo, avanço evangélico e crescimento dos sem religião. Por dentro dos grupos, há feminização em várias tradições e diversificação racial, com liderança dos negros em todas elas. Territorialmente, o avanço evangélico é mais forte no Norte e no Centro-Oeste; Umbanda/Candomblé ganham corpo em Sul–Sudeste; e os sem religião se expandem em ambientes urbanos e de fronteira.
Próximos passos
Revisitaremos este estudo assim que os microdados amostrais de 2022 forem liberados para refinar comparações etárias com 2010, e abrir cruzamentos finos de idade–escolaridade–renda.
Como citar
PESTANA, Matheus Cavalcanti. "O que mudou no quadro das religiões do Brasil: comparações entre os Censos 2010 e 2022". Religião e Poder, 14 ago. 2025. Disponível em: . Acesso em: .
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