Plataforma Religião e Poder ganha novo formato no clima das mudanças na Câmara e no Senado

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Magali Cunha

Por Magali Cunha

  • 04 fev 2025
  • 7 min de leitura
Plataforma Religião e Poder ganha novo formato no clima das mudanças na Câmara e no Senado
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O ano legislativo de 2025 teve início neste 1 de fevereiro, com a Câmara e o Senado Federais reconfigurados a partir da sua liderança: deixam as presidências, respectivamente, o deputado Arthur Lira (PP-AL) e o senador Rodrigo Pacheco (União-MG). Os dois lideraram as casas legislativas por dois mandatos bienais, 2021-2022 e 2023-2024, e agora cedem os cargos para o deputado Hugo Motta (Republicanos-AL), na Presidência da Câmara Federal, e Davi Alcolumbre (União-AP), na Presidência do Senado Federal (este eleito pela segunda vez, depois de ter atuado como presidente da casa no biênio 2019-2020).

Os presidentes da Câmara e do Senado têm identidades religiosas diferentes, segundo o levantamento da equipe do ISER: Hugo Motta é um cristão não determinado (sem vinculação identificada) e Davi Alcolumbre é judeu. Ambos acionam publicamente estas identidades por meio de discursos verbais e não-verbais. Porém, os dois têm pontos em comum no que toca a religião: tiveram o apoio da Frente Parlamentar Evangélica às suas candidaturas e articulam ingredientes do catolicismo em manifestações públicas, como a promoção por Motta da abertura do ano legislativo com uma missa e a exaltação, por Alcolumbre, de distintas festas católicas

A observação destes elementos que marcam a presente cena pública reflete a dimensão que orienta o trabalho da equipe de Religião e Política do ISER: a compreensão da religião como força política.

É nesta vocação institucional, neste contexto de mudanças, que afetarão profundamente a dinâmica da arena política brasileira a partir deste ano, que a Plataforma Religião e Poder do ISER também vive uma transformação. Religião e Poder ganha, neste 2025, um novo formato: novo design e aperfeiçoamento da sua política editorial.  

Este espaço digital, criado em 2020, para promover o acesso a informações e a análises confiáveis sobre a relação entre religião e política, a partir das pesquisas e estudos promovidos pelo ISER e por seus colaboradores/as, se consolidou como uma referência neste tema para pesquisadores/as, jornalistas/as e o público mais amplo com interesse neste conteúdo. A Plataforma tem, então, contribuído substancialmente para qualificar o debate público, com o alcance de um número significativo de acessos orgânicos.

A partir deste 2025, as temáticas e abordagens seguirão a mesma orientação, porém com uma importante alteração: passa a se consolidar o caráter acadêmico deste espaço digital por meio da autenticação com o número do ISSN. Com isso, foi instituído um Conselho Acadêmico, formado por pesquisadoras e pesquisadores do ISER e de diferentes instituições acadêmicas com estudos e produções no escopo da interface entre religião e política. 

Quando foi lançada em 23 de outubro de 2020,  em parceria com Gênero e Número – organização que atua na interseção entre jornalismo de dados e pesquisa –  o foco da Plataforma era evidenciar um retrato das três frentes parlamentares com identidade religiosa em ação no Congresso Nacional naquele período: a Evangélica, a Mista Católica Romana e a de Defesa dos Povos de Matriz Africana.

A atenção ao fato de que parlamentares que apoiam a formação de uma frente com identidade religiosa no Congresso Nacional não são necessariamente vinculados àquela religião enfatizada, já se configurava uma reflexão importante a ser socializada. Ao lado dela, uma outra: o estabelecimento da distinção entre Frente Parlamentar e Bancada com identidade religiosa, objeto de equívocos frequentes de abordagem tanto em matérias noticiosas quanto em material de cunho acadêmico. Em outro prisma, fazia-se importante considerar as movimentações das “bancadas informais”, articulações relacionadas às frentes religiosas, o que possibilitou identificar “agentes de influência” entre parlamentares.

A partir de 2021, as abordagens, que já atentavam para este retrato do Congresso, se estenderam na compreensão da religião como força política também no contexto dos outros poderes (Executivo e Judiciário). Naquele período as análises também passaram a incluir a compreensão da relação entre religião e voto nos processos eleitorais, com a inserção da seção “Eleições”, para acompanhamento e análise da conjuntura e para publicação das pesquisas do ISER sobre as candidaturas com identidade religiosa nos pleitos municipal (2020) e nacional (2022). Um caminho importante foi o estudo das candidaturas de cunho progressista naqueles dois processos eleitorais, que incluiu significativas entrevistas com lideranças.

De 2021 a 2022, a Plataforma Religião e Poder também foi espaço de socialização dos dados abertos que embasaram as pesquisas, os levantamentos e análises desenvolvidos pelo ISER. Foi ainda veículo que contribuiu com o aprofundamento, por meio de informações, definições e explicações, de temas presentes na arena pública por meio da seção “Glossário”. A recepção positiva da coleção motivou uma publicação impressa: o “Dicionário para entender o campo religioso”. 

Em 2023, Religião e Poder tornou-se veículo de duas frentes de produção do ISER, que representaram mais densidade nos conteúdos oferecidos pela plataforma e seguem consolidadas neste 2025: (1) o monitoramento dos Projetos de Lei da Câmara Federal, com acompanhamento contínuo, mensal, de propostas legislativas em tramitação que abordam temas religiosos ou questões éticas relacionadas à fé; (2) reprodução de conteúdos publicados pelo ISER como um dos parceiros do espaço digital Nexo – Políticas Públicas – uma plataforma acadêmico-jornalística do Nexo Jornal que traz a produção de alguns dos principais centros de pesquisa do Brasil e do mundo em linguagem clara e formatos inovadores. Religião e Poder reproduz os conteúdos publicados no Nexo PP referentes à relação entre religião e política.

Nesse 2023, também, foi publicada em Religião e Poder a pesquisa “Mulheres evangélicas, política e cotidiano”, realizada pelo ISER de maio a julho de 2022, para, a partir da compreensão da percepção de mulheres evangélicas sobre as eleições e voto, explorar percepções sobre política e cidadania articuladas à vida cotidiana. Esta pesquisa se desdobrou em outras duas, realizadas em 2023 e 2024, com relatórios ainda por serem publicados.

Outra frente de pesquisa foi consolidada pelo ISER 2023, resultante da observação a dinâmica que envolve os grupos religiosos no cenário sociopolítico: o Grupo de Trabalho em Catolicismos e Conservadorismos. O GT reuniu especialistas de campos disciplinares e teóricos diversos, mas convergentes no interesse em complexificar a discussão sobre a relevância das ações de atores católicos para o endurecimento conservador no Brasil. Relatório com o resultado foi publicado em Religião e Poder, junto com outros textos sobre a temática.

Todas as editorias aqui citadas permanecem na nova configuração de Religião e Poder neste 2025, que segue contando com o compartilhamento das contribuições do ISER com análises e debates em torno dos temas em pauta” na arena pública, publicados em diferentes veículos midiáticos e expostos em diversos eventos. A nova Plataforma Religião e Poder traz ainda a seção “Debate Público”, agora com publicações de múltiplas abordagens em torno da interface religião e política em diferentes formatos.

Mais do que nunca, religião e política é uma temática a ser discutida e estudada, crítica e coletivamente, por meio de recursos responsáveis e habilitados, como a Plataforma Religião e Poder, pelos mais diferentes grupos e forças sociais que formam e informam sobre política e nos espaços em que a religião é praticada. 

Como citar

CUNHA, Magali. "Plataforma Religião e Poder ganha novo formato no clima das mudanças na Câmara e no Senado". Disponível em: . Acesso em: .

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