ISER lança livro digital com balanço dos últimos cinco anos de pesquisas sobre religião e eleições

Magali Cunha

Por Magali Cunha

  • 10 fev 2025
  • 4 min de leitura
ISER lança livro digital com balanço dos últimos cinco anos de pesquisas sobre religião e eleições
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Passadas as eleições municipais de 2024 e já no calor das discussões em torno das eleições nacionais e estaduais de 2026, o ISER oferece a pesquisadores, pesquisadoras, jornalistas e demais pessoas interessadas nestas dinâmicas da cena pública nacional, uma coletânea de textos em um livro  que busca responder à questão: “O que aprendemos ao pesquisar religião e eleições?”. 

Este oferecimento tem história! Há quase 55 anos, a produção do ISER sobre a presença pública da religião é uma referência e está reunida em livros, relatórios e séries próprias, como Cadernos do ISER, Comunicações do ISER e a revista Religião & Sociedade, periódico acadêmico internacionalmente reconhecido, editado há 44 anos, que promove divulgação científica de estudos sobre a religião em suas diversas interfaces com a sociedade.

Este acervo de produções orienta a compreensão de que não é mais possível fazer atualmente qualquer análise política no país sem que se considerem a complexidade do campo religioso, a influência de lideranças religiosas e os impactos da religião vivida pelas pessoas cotidianamente na política institucional brasileira. 

Impulsionado por essa realidade, o ISER vem desenvolvendo e aperfeiçoando, desde 2018, uma metodologia de pesquisa que permita complexificar os debates sobre religião e eleições no Brasil. Essas investigações partem de um incômodo quanto à forma superficial pela qual a identidade religiosa é discutida e mobilizada no período eleitoral. Em geral, a cobertura da imprensa e as análises dela decorrentes enfatizam fortemente o pertencimento evangélico pentecostal, frequentemente associado ao fundamentalismo, e a defesa de pautas antidemocráticas.

Essa abordagem, além de desconsiderar o cruzamento com outros marcadores da diferença, gera o apagamento do protagonismo católico e de figuras do protestantismo tradicional, igualmente defensores de pautas contrárias à garantia de direitos das minorias. Além disso, também invisibiliza religiosos comprometidos com o fortalecimento democrático e com a defesa dos direitos humanos, outrora tão importantes em contextos históricos como no enfrentamento à ditadura.

Assim, por um lado, é importante chamar atenção para a forma como religiosos conservadores vêm contribuindo para a demonização das diferenças e, no limite, de todos os diferentes. Por outro, também é necessário mostrar que as religiosidades também constituem espaços de produção de resistência aos autoritarismos ao longo de nossa história, contribuindo para o avanço da cultura democrática no Brasil. 

Outra inquietação que atravessa as pesquisas do ISER diz respeito aos modos pelos quais a identidade religiosa vem sendo mobilizada nesse debate, relacionando-a a categorias como gênero, raça e financiamento eleitoral, entre outras. 

É nestas bases que o livro “O que aprendemos ao pesquisar religião e política?” foi organizado por Lívia Reis, Laryssa Owsiany, Magali Cunha e Matheus Pestana, integrantes da equipe de Religião e Política do ISER. Em uma primeira parte, estão os capítulos que apresentam uma sistematização dos aprendizados alcançados com as investigações e os principais dados quantitativos e qualitativos encontrados nas pesquisas realizadas em 2020 e 2022. 

Uma segunda parte da obra reúne seis artigos de especialistas sobre temas específicos relacionados aos dados levantados nas pesquisas do ISER. Christina Vital e João Moura, por exemplo, analisaram as candidaturas evangélicas de esquerda; José Antonio Miranda Sepulveda e Pedro Henrique Lessa Torres exploraram, a partir de uma perspectiva histórica, a relação entre militarismo, religião e eleições; Magali Cunha escreveu sobre o uso de fake news como estratégia eleitoral em ambientes religiosos; Mariana Morais tratou acerca de estratégias de afrorreligiosos na política institucional; e, por fim, Andrea Silveira trouxe um olhar sobre as escolas e os processos de educação como campo de disputa nas eleições de 2024. 

Com esta publicação, o ISER espera contribuir com a ampliação do debate público sobre religião e eleições. Não há qualquer pretensão de tentar esgotá-lo; muito ao contrário, a expectativa é que a circulação das reflexões aqui apresentadas sirva de mote a novas questões, tanto para o ISER quanto para aqueles que, incentivados por essas ideias, possam compartilhar nossa inquietação diante da mesma pergunta: o que mais podemos aprender ao pesquisar a relação entre religião e eleições no Brasil? 

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